por Guto Rafael / A Lenda
Aqui o chão tá rachado
debaixo do pé da gente.
Povo do quengo escaldado
da terra desse sol quente.
Pra trabalhar no roçado
tem 12 horas pra frente.
Cabo da enxada suado.
Não é história ou repente.
Pra acordar com café.
Pra caminhar com urubu.
Seguindo o caminho a pé
sobre esse teto azul.
Leva a marmita, José.
A noite espero por tu.
Mas quando a seca vier
vai imigrar para o Sul.
Povo do chão rachado
na terra do céu fechado.
Leva 3 dia inteiro.
Viagem de caminhão.
Pra trabalhar de porteiro
ou na função de peão.
Te chamam de cangaceiro.
Leva carão do patrão.
E vai juntando dinheiro.
E vai mandar pro sertão.
Enquanto tu cata lata,
cata garrafa, caneca,
povo do Sul te destrata.
É paraíba. É jeca.
Retrata cabeça-chata
que rala por uma merreca.
É mão-de-obra barata.
É alvo bom pra careca.
Povo do chão rachado
na terra do céu fechado.
Que atitude cruel
em tua sociedade.
Não vim roubar teu papel.
Quero uma oportunidade.
Deixo pra trás coronel
pelo metrô da cidade.
Deixo de lado o chapéu.
Fica no peito a saudade.
Povo do chão rachado
na terra do céu fechado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário