segunda-feira, 4 de junho de 2012

Cidade Suor

por Guto Rafael

32 grau.
Fortaleza marginal.
A muralha de concreto
não faz sombra no quintal.
Ninguém paga pau
se você passa direto,
se você não tem um nome
que carrega desde o feto.
Lhe tiram do seu teto
com poder autoritário
beneficiando o
mercado imobiliário.
Se afogue no aquário.
Aqui o sal virou cimento.
Aterraram o ecossistema
por um estacionamento.
No total discernimento
da atual condição.
Humilhado no suor,
imprensa na lotação.
Sempre tem uma solução
pro lado que é mais fraco.
Pro lado que é mais rico,
não tem caviar barato.
Esse é o relato
de quem acordou com sede.
De quem pagou o pato
pelo pedaço do verde.
De quem caiu da rede
ao cair no desespero
por ver Iracema
se vender pelo dinheiro.
Cidade suor. Cidade do calor.
Cidade que respeita só quem é doutor.
Vista à beira-mar.
Lucro pra ostentação.
Essa é a lei
da capitalização.
Desapropriação
de toda comunidade.
Sempre tem quem alegue
ilegalidade.
O grau é uma arte.
A vida é um teste.
Cair sempre faz parte,
só não pro lado leste.

A praga que infeste
mostra seu real valor.
Vivendo sem escrúpulo,
vivendo de flozô.
Na cidade do calor
onde o pau come ligeiro,
de cara pro muro,
só para pirangueiro.
Se não tem dinheiro,
não faz parte do esquema
Essa é a cartilha,
é o conceito do sistema.
É a nobreza do seu lema
para o mal ou para o mal.
Te fazem acreditar
que a verdade é o canal.
Lavagem cerebral.
Falso vira verdadeiro.
Hiperfaturam Fortaleza
pra faturar primeiro.
Cidade suor. Cidade do calor.
Cidade que respeita só quem é doutor.
Tua hora tá chegando.
Pode passar os pano.
Na conversa, vão levando.
Pode passar os pano.
Cidade Suor, cidade do calor.
Cidade que respeita só quem é doutor.